Uma inovação aprovada recentemente nos Estados Unidos promete mudar o cenário da detecção precoce do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Pesquisadores da Universidade Emory, em parceria com o Marcus Autism Center, desenvolveram um teste de autismo baseado em rastreamento ocular que identifica sinais do transtorno em bebês com apenas 15 minutos de duração e cerca de 80% de precisão — especialmente em casos que exigem maior suporte.
O método, batizado de EarliPoint Evaluation, é fruto do trabalho dos neurocientistas Warren Jones e do brasileiro Ami Klin, diretor do centro especializado em Atlanta. A proposta é clara: permitir que intervenções e acompanhamentos comecem mais cedo, justamente quando o cérebro da criança está em fase acelerada de desenvolvimento. “Muitos pais percebem comportamentos atípicos antes dos dois anos, mas o diagnóstico nos EUA costuma ocorrer apenas entre os 4 e 5 anos”, alerta Jones, defendendo a urgência de ferramentas mais ágeis.
Como o exame funciona?
Voltado a crianças entre 16 e 30 meses de idade, o exame consiste em assistir a uma série de vídeos curtos enquanto câmeras altamente sensíveis registram para onde os olhos do bebê se voltam. O sistema avalia os padrões visuais em tempo real, comparando-os a padrões típicos e atípicos de atenção. Klin destaca que as crianças com autismo observam o conteúdo de forma diferente — muitas vezes desviando o olhar de rostos e interações sociais para focar em objetos. Com isso, acabam perdendo milhares de oportunidades essenciais para o aprendizado social. Já crianças com desenvolvimento típico tendem a se concentrar espontaneamente em expressões faciais e conexões humanas. Vale ressaltar que essa tecnologia não está relacionada à causa do autismo.
Não há milagres. Diagnóstico demanda tempo, análises cruzadas e altos investimentos
Para Jones, exames objetivos que usam biomarcadores, como esse, são fundamentais para tornar o processo de diagnóstico mais eficiente e acessível. No entanto, Klin ressalta que a tecnologia por si só não elimina barreiras: “Existem crianças que apresentam indicadores claros de autismo, mas ainda enfrentam dificuldades para obter um diagnóstico formal”.
As desigualdades no acesso ao diagnóstico e tratamento se tornam ainda mais evidentes entre populações vulneráveis. A tecnologia tem um custo significativo: o equipamento gira em torno de US$ 7 mil (cerca de R$ 40 mil), e cada exame custa aproximadamente US$ 225 (cerca de R$ 1.200). Ainda não há data confirmada para a chegada do exame ao Brasil.
O fator racial na detecção precoce do autismo
O professor John Constantino, especialista em psiquiatria e comportamento na Universidade Emory, explica que crianças negras são, em média, diagnosticadas mais tarde que crianças brancas, além de receberem diagnósticos equivocados com maior frequência. Esse grupo também enfrenta maiores obstáculos para acessar terapias e programas de intervenção precoce, e apresenta o dobro da taxa de deficiência intelectual associada. Constantino reforça a importância de intervir cedo: segundo ele, nove meses de terapia especializada podem resultar em ganhos de até sete pontos no QI de uma criança com autismo severo.
Fonte: MSN Saúde