O Poder da Arte na Inclusão
Em uma linda manhã de sol, fomos fazer uma ação social de graffiti em uma comunidade da nossa periferia, onde juntamos os amigos grafiteiros e um dj parceiro pra tocar. Fizemos um churrasco ali na rua mesmo e possibilitamos um dia de integração naquela comunidade, como de costume.
Nesse clima bem amistoso e descontraído, comecei a criar minha arte. Risquei uma, duas e por três vezes. Não gostei e apaguei todas as vezes. Poderia ser um dia chato com tantas tentativas frustradas. Mas não foi.
Fiquei olhando meus desenhos e o muro para entender o que poderia ser feito. Até que, de repente, um dos meus amigos apontou para uma linda garota pretinha, com dois lindos coquezinhos no cabelo. A partir daí, minha inspiração veio na hora. Comecei a desenhar inspirado naquela menina que estava entretida brincando na praça.
Logo depois de conseguir riscar o desenho com aquela linda imagem, essa mesma garotinha olhou para minha direção. Não tive dúvidas: convidei ela para pintar comigo. Ensinei como usar as tintas e o spray. E ela mesma escolheu suas cores preferidas para colorir a arte. Conversamos sobre a escola, as coisas que ela gostava de fazer, de brincar… Foi bem divertido.
Algum tempo depois, ela retornou à sua casa enquanto eu continuava a pintar e a concluir o acabamento da arte. Quando enfim terminei, pedi para que a chamassem para ver o resultado da arte que tínhamos feito juntos. Tiramos várias fotos e ficamos ali nos divertindo com o resultado.
No final da tarde, uma moça que morava à frente da praça veio me parabenizar pelo trabalho: “Nossa, ficou lindo demais! Meus parabéns. Muito obrigada pelo que vocês fizeram. E meus parabéns para você! Você fez algo realmente incrível quando chamou aquela menina pra pintar com você”.
Então eu respondi que não havia feito nada demais, que gostava muito de fazer isso e que era algo bem comum no meu trabalho. Foi quando ela disse: “Não foi algo comum. Nem sei como te agradecer. Aquela menina é vítima de preconceitos diários. As crianças isolam ela, xingam e não querem brincar com ela, simplesmente porque ela é preta. E, no momento em que você desenhou ela e a convidou pra pintar com você, os olhos dela brilharam de uma outra forma! Você propiciou poder para ela e todas as crianças passaram a olhar para ela de outra forma. Com olhar de admiração. Por isso, te agradeço de coração pelo que fez.”
A arte tem o poder de nos levar às alturas, de nos modificar de dentro para fora. Meu trabalho não se trata apenas de uma expressão contra o racismo, vai muito além. Trago em minha poética artística valores de humanidade, acolhimento, equidade, amor e reciprocidade. Histórias reais como essa só nos mostram o quanto ainda temos que avançar. Sou muito grato por estar cumprindo a minha missão: conectar e transformar vidas e lugares por meio das minhas artes e projetos.
Dinas Miguel é graduado em Artes-Visuais e pós-graduado em Educação Ambiental. É idealizador e organizador do projeto social “Cultura e Conceito”. Ganhador do Prêmio Sabotage de Hip-Hop na categoria melhor grafiteiro de 2018. Realiza workshop de graffiti coletivo e pinturas ao vivo em eventos, além da sua grande experiência como Arte-Educador realizando projetos em instituições educacionais e empresariais. Seus trabalhos podem ser apreciados em diferentes cidades e países mundo afora, com sua poética artística arraigada na cultura brasileira, vem se plasmando e interagindo na construção artística e pessoal da sociedade pois sua arte representa toda a história do seu povo e sua ancestralidade, tem como missão “Conectar e transformar as pessoas e os lugares por meio de suas artes e projetos”.