As barreiras quebradas quando o design é inclusivo
Quando comecei a estudar design dentro da faculdade de jornalismo, logo entendi a exata função do design, que era muito mais do que “deixar bonito” ou adicionar camadas de Photoshop em uma imagem mediana. Entendi que o design é uma ferramenta de funcionalidade. É dele que dependemos para que consigamos ler, entender, ouvir e sermos capazes de capturar uma mensagem como ela é passada—o que pode parecer tarefa simples quando a régua do que é funcional se mede por um “normal” extremamente exclusivo.
Depois de entrar no mercado de trabalho, comecei a entender que essa palavra, usada de forma incorreta para definir propagandas teoricamente positivas, é destrutiva. Exclusivo não deve servir para o design. Não considerar quase 25% da população de um país ao pensar em um produto ou serviço não deve ser natural.
Uma pesquisa apontou que pessoas e empresas não gostam de se sentirem destacadas – principalmente por características especiais. Nós, como seres humanos, procuramos sempre uma comunidade, e isso significa que nosso comportamento vai ser mais confortável e natural quando somos tratados dentro da naturalidade. Por isso, posicionar nossas tecnologias e serviços pensando em todo o espectro de quem vai consumi-los é essencial para começar a remodelar nosso sistema excludente.
Naturalizar de fato o que já é natural é pensar uma nova proposta para olharmos uns aos outros como diferentes e ser capaz de respeitar diferenças está principalmente em pensar nelas primeiro. Trazer diferentes perspectivas e se debruçar nos estudos de um produto e serviço pensando primeiro em quem mais precisa e depois discutindo se a alternativa é sustentável para quem não precisa de nenhuma “característica especial” pode ser um novo caminho a ser seguido pelas grandes empresas.
Há alguns dias, a Stark, startup com base em Nova York, anunciou um fundo de U$1.5 milhão para um kit que pretende ajudar designers e desenvolvedores a criar designs mais inclusivos. Pode ser controverso, já que cada vez mais olhamos para a tecnologia como uma inimiga — e não sem motivos —, mas olhar para softwares que sejam capazes de incluir todos os tipos de usuários pode talvez ser um dos primeiros passos para começar a melhorar e cuidar dos gaps que a tecnologia deixou na sociedade.
Pode ser bastante exaustivo ter de combater a exclusão sistêmica com a qual vivemos enquanto lidamos com o processo altamente desafiador que é criar um produto ou serviço dentro de um mercado tão competitivo. Mas hoje entendo — e devemos todos estar nesse mesmo barco, cada vez mais — que é de um lugar de pertencimento e segurança que devem sair nossos principais trabalhos; e eles só saem deste lugar quando pensados para serem consumidos por qualquer pessoa. E a tomada de responsabilidade pelo que entendemos como inclusão deve ser alinhada, levada a sério e colocada também como uma meta.
Aos poucos, a regra deve ser em pensar na diversidade e como representá-la em conteúdos e tecnologia. Considerar a representatividade estética, identitária ou cultural é o pensamento inicial para naturalizar para todos o que já é natural para tantos. E a única forma de ter certeza de que não estamos deixando ninguém da nossa comunidade para trás é criando produtos, serviços e conteúdos pensados intencionalmente para serem inclusivos.
Nathalia Nasser, formada em Comunicação Social pela PUC Campinas, é jornalista e editora, com foco em criação de conteúdo e design. Mora em São Paulo e acredita na possibilidade da criação de conteúdo e produtos de maneira mais honesta, inclusiva e plural.