Como definir um padrão de beleza em um mundo composto pela pluralidade corporal
Um tema que gera polêmica e boas manifestações feministas, sem sombra de dúvidas, são as milhares tentativas de padronizar a beleza corporal.
Afinal, o que é padrão de beleza?
Essa é uma opção racional de responder a questão. A beleza virou produto e, como tal, tem a necessidade de gerar consumo diariamente para sobrevivência.
Quem trabalha nesse setor acha que tem o direito de ditar as regras, como um conjunto de características físicas que define o que é belo ou não.
O que de fato precisa ser questionado:
- Quem, de fato, define esse padrão conhece a pluralidade corporal?
- Por que essa definição, por um pequeno grupo da sociedade, é válida para considerar uma pessoa feia ou bonita para a maioria?
Vale a pena ressaltar que rótulos foram feitos para produtos e não para pessoas, assim como o gosto pessoal que não se discute.
Uma forma simples e bem rápida de responder aos questionamentos acima é que o padrão de beleza é definido pela mudança cultural da evolução humana e a indústria da beleza: produtos cosméticos, procedimentos estéticos e o mundo conhecido como fashion/moda.
A moda está diretamente ligada com a beleza, pois a roupa tem um papel importante nesse setor. A marca que vestimos é status para muitose acaba ditando as regras, tendência e comportamento.
O que devemos ter consciência é que existe uma pluralidade corporal que mostra que cada pessoa é única, afirmando que não é regra que TODOS sejam iguais.
As diferenças que nos tornam pessoas belas, aqui podemos usar o termo “pessoas especiais”, sendo pessoas com ou sem deficiência. Cada um precisa saber valorizar a sua beleza natural.
A mídia entra nesse contexto como a grande vilã, uma vez que o tema beleza acaba ganhando destaque com o sucesso de pessoas públicas ou celebridades que estão em maior evidência.
Celebridades transformam a própria imagem em ferramentas de trabalho para o seu sustento em um mundo totalmente capitalista.
Outra opção em responder aos questionamentos apontados é o ponto de vista que o cirurgião plástico Dr. Ivo Pitanguy costumava dizer que nunca soube definir o que é conceito de beleza, mas sempre que a encontrou, soube reconhecer.
Procedimentos estéticos devem ser feitos por questões pessoais e jamais por imposição de terceiros.
Autoestima, autoaceitação e amor próprio em primeiro lugar.
Somos um país miscigenado, por isso não existe UM ÚNICO padrão de beleza. O que existe é pluralidade corporal que precisa ser reconhecida pela indústria da beleza e valorizada por todos.
Para fugir desses padrões, que às vezes agridem tanto os aspectos físicos quanto os emocionais, talvez seja necessário um exercício individual. Mudar seus conceitos do que é belo, priorizar seus pontos fortes e jamais esquecer sua identidade visual, além de ter estilo próprio e aceitar sua beleza natural.
Cuidar da aparência é importante, mas tudo com a devida moderação. Beleza e deficiência não são palavras opostas e os aparelhos ortopédicos hoje são considerados acessórios de moda.
“A beleza vai além de ser bela. É se sentir bem consigo mesma.” Adriana Buzelin, modelo fotográfico com tetraplegia.
“O padrão de beleza é o reflexo do espelho.” Caroline Marques, modelo com paraplegia.
“O conceito estabelecido como padrão não existe, até as modelos renomadas passam por retoques de imagem antes de serem capas de revista.” Marcio Monclair, modelo com deficiência visual.
“Beleza é aquilo que te faz bem, te faz feliz. O conceito é percepção exclusivamente individual.” Paula Ferrari, modelo fotográfico com mielite
Kica de Castro é publicitária e fotógrafa. Tem uma agência de modelos exclusiva para profissionais com deficiência, desde 2007. Apresentadora do programa Viver Eficiente, exibido pela D+ TV, tem como lema: “Valorizando as pessoas em suas eficiências”. Seu objetivo é tirar as pessoas com deficiência da invisibilidade social.