A diversidade e inclusão como parte da pauta social do ESG
Uma das pautas atuais do mundo dos negócios se refere ao ESG. Esse é um acrônimo em inglês para as palavras ambiental, social e governança, o que por si só abrange uma série de questões voltadas para o desenvolvimento sustentável e de como as organizações devem orientar a sua relação com o meio ambiente e com as pessoas direta ou indiretamente impactadas por sua atuação.
Mas para além da preocupação pura e simples de fazer o certo porque é certo, ou seja, das organizações procurarem atuar de forma consciente e responsável em relação à proteção do meio ambiente e das pessoas com quem se relacionam, há um fator que é importante ressaltar: não ser responsável representa aceitar maiores riscos da ocorrência de prejuízos financeiros e de reputação.
Mais de 3.000 entidades do mercado financeiro, responsável por administrar um patrimônio de mais de 100 trilhões de dólares, já entenderam a importância do ESG para os seus investimentos e assinaram o PRI (Princípios do Investimento Responsável), documento elaborado pela Iniciativa Financeira do Programa da ONU para o Meio-Ambiente (UNEP FI) e o Pacto Global da ONU, que estabelece seis princípios voltados para a pauta do ESG que devem ser observados pelos investidores na tomada de decisão de investimentos. Assim, não há desculpa para a adoção da pauta do ESG.
Deve-se adotar ações voltadas para o ESG por uma questão de princípios e valores pessoais ou, simplesmente, por uma questão de ordem prática, porque representa um investimento na eliminação de riscos para o próprio negócio.
Pois bem. Entendido o que é o ESG e porque vem sendo exigido pela sociedade em geral, há um tópico que merece especial atenção relacionado ao seu aspecto social: a diversidade e a inclusão e de como, além de socialmente responsável, ações voltadas a esse tema também é um bom negócio.
Pesquisa da Diversity Matters, promovida pela consultoria McKinsey na América Latina, revelou que o nível de satisfação dos colaboradores é maior em empresas comprometidas com a diversidade. Tanto que a probabilidade de relatarem desejar permanecer por três anos ou mais na mesma empresa é 36% maior quando comparado com seus pares que trabalham em empresas não comprometidas com a diversidade.
Além disso, uma equipe diversa, formada por pessoas de diferentes idades, necessidades especiais, etnias, estados civis, crenças, gêneros, religiões, orientações, culturas e classes sociais, traz outras vantagens como, por exemplo, aumentar a criatividade e inovação, diante da geração de novas ideias que um ambiente diverso pode gerar e, também, uma maior facilidade para dialogar com uma base mais ampla de clientes, também diversos.
Tudo isso gera melhores resultados. Outro estudo da McKinsey, de maio de 2020, mostra que times com mais de 30% das posições executivas ocupadas por mulheres têm mais chance de apresentar melhor performance financeira do que os times com pouca diversidade de gênero.
Ou seja, buscar atender a pauta do social do ESG, no âmbito interno das organizações não é apenas o certo a ser feito, é o melhor a ser feito para a própria empresa, que acaba tendo de fato melhores resultados seja para a sua reputação, seja para os seus resultados financeiros.
Contudo, a adoção de quaisquer das práticas do ESG, deve ser genuína e transparente, para que a empresa não caia no que se denomina greenwashing ou socialwashing, ou seja, práticas que promovem iniciativas enganosas de sustentabilidade, caracterizadas pela falta de profundidade e sem métricas consistentes acerca dos resultados positivos que se espera que representem.
Ações como essas além de não representarem a responsabilidade socioambiental que as organizações devem procurar ter, acabam por levar a organização a ser malvista no mercado e trazem muito mais prejuízos que vantagens.
Diversas empresas já enfrentaram o julgamento do mercado, ao serem apontadas, com ou sem razão, como violadoras dos princípios do ESG. É comum se ouvir falar em campanhas de boicote de consumidores a marcas que se envolveram de alguma forma com questões como postura racista ou homofóbica, por exemplo.
Por isso que as organizações devem se preocupar em adotar ações efetivas pautadas no ESG, inclusive as voltadas para a diversidade e inclusão de suas equipes, fazendo isso de forma transparente e, de fato, responsável.
Monica Bressan é especialista em governança corporativa, ESG, compliance, ISO 37001, ISO 31000, contratos e finanças.
*Link para arquivo em pdf de 12 páginas sobre PRINCÍPIOS PARA O INVESTIMENTO RESPONSÁVEL (PRI): https://www.unpri.org/download?ac=10969